Xenofobia

'Agrediu sem eu esperar', diz morador de Niterói atacado no metrô

Ele retornava para casa quando foi agredido dentro do vagão

Paulo teve que colocar uma placa no olho esquerdo por causa das agressões
Paulo teve que colocar uma placa no olho esquerdo por causa das agressões |  Foto: Lucas Alvarenga
 

A vida do sushiman Paulo Victor Araújo, de 36 anos, mudou do dia para a noite, depois que ele foi vítima de uma agressão dentro de um vagão de metrô, no Rio. Ele estava voltando do trabalho, quando foi atacado e acabou sofreu um traumatismo craniano. Câmeras do sistema interno de vigilância flagraram toda a sessão de violência. Pouco mais de um mês depois das agressões, nesta quinta-feira (28), o morador de Niterói decidiu contar sua história para pedir justiça. A Polícia Civil investiga o crime como tentativa de homicídio, motivado por xenofobia por ele ser do Ceará.

O sushiman havia saído de seu trabalho que fica em um shopping de São Conrado, na Zona Sul do Rio, por volta das 23h do dia 7 de junho, quando entrou no metrô. Ele pretendia descer na Central do Brasil, onde pegaria um ônibus para o centro de Niterói, onde mora. Mas, a viagem foi interrompida ainda na estação Antero de Quental.  

"Eu faço esse trajeto há dois anos e isso nunca aconteceu. Eu estava sozinho, cheguei no metrô, coloquei meu fone de ouvido e estava olhando no celular. O homem, no meio do caminho, veio até mim com uma bolsa e me agrediu sem eu esperar. Não falou nada, nem olhar para mim ele olhou, nem eu para ele. Foi uma coisa assim sem explicação", contou o sushiman. 

A vítima sofreu lesões no olho esquerdo
A vítima sofreu lesões no olho esquerdo |  Foto: Arquivo pessoal
 

Imagens de câmeras de segurança do metrô filmaram toda a ação. Na gravação, um homem de casaco vermelho se levanta do lugar onde estava no metrô, pega duas bolsas e bate com uma das bolsas na cabeça de Paulo. A vítima, então, se levanta e tenta se defender. As pessoas que estão no local, inclusive uma mulher que chegou com o agressor, tentam separar a briga. O agressor vai embora e deixa a vítima sangrando. O acusado não teria sido abordado por seguranças por afirmar que estava armado. 

Após o crime, Paulo Victor só lembra de ter sido ajudado por um funcionário do metrô. "Essa pessoa do metrô me ajudou a levantar e me contou que tinha um segurança acima da estação e que ele poderia fazer o meu atendimento. Eu fui até lá sozinho, andando e meio tonto, mas consegui ajuda", disse ele.

Depois disso, Paulo foi levado para o Hospital Municipal Miguel Couto, no Leblon, e, em seguida, foi encaminhado para uma unidade de saúde particular de Niterói. Lá, ele ficou internado por seis dias. O sushiman sofreu traumatismo craniano e lesões no olho esquerdo. Os médicos precisaram colocar uma placa no olho dele e até hoje ele sente dificuldade para enxergar e sensibilidade quando está no sol. 

Paulo usa óculos escuros por causa da sensibilidade nos olhos
Paulo usa óculos escuros por causa da sensibilidade nos olhos |  Foto: Lucas Alvarenga
 

A vítima tem dois filhos, um de 12 anos e 4 anos, e uma companheira. Ele disse que só lembrava da família quando tudo ocorreu. "Dá aquele aperto no coração, a primeira coisa que me veio na cabeça foram meus filhos. É difícil, mas eu tive um suporte da empresa que trabalho e consegui sair bem, se comparado a como eu entrei no hospital", desabafou a vítima. 

Paulo Victor contou que, após o ataque, o agressor disse "pessoas como você tem que ser tratadas assim", se referindo ao fato de ele ser nordestino.

Eu quero que isso não aconteça com mais ninguém. Eu ensino isso para os meu filhos, de combaterem o preconceito, temos que ter mais respeito pelas pessoas, independente de conhecê-las ou não. Então, quem puder, quem souber do acusado, denuncie Paulo Victor, sushiman
   

O caso está sendo investigado pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi). O agressor ainda não foi identificado. Quem souber quem ele é, pode telefonar para o Disque-Denúncia pelo número (21) 2253-1177. Em nota, o MetrôRio informou que os agentes priorizaram o atendimento e prestaram toda a assistência ao passageiro que estava com ferimentos.

"Ele foi conduzido em um carro da empresa para um hospital e, em seguida, à delegacia. A concessionária forneceu imagens e informações às autoridades policiais para investigação do caso", informou.

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